Junho de 23

A rua está toda vazia

Dos retrovisores e janelas não se vê ninguém

Cinco minutos antes de eu virar aqui

Parecia fazer sol

Parecia que as pessoas iam às praças em família

De repente a neblina baixou

O céu se escondeu

E eu dava seta para a curva

Na rua toda vazia

E eu me perguntava de que é que adiantava dar seta

Numa rua toda vazia

Ninguém passeava com os seus cachorros

Ninguém queria chegar a algum lugar

E por um breve segundo

Quando concluí a curva que eu anunciava

Esqueci-me até de mim

Para onde é que eu ia?

Por que é que eu saía de um lugar

Para um outro?

Mas que bobeira a minha

Todo mundo vai pra algum lugar

Vibrava o celular. Minha mãe:

Tá chegando?

pedro libélula, 04/06/2023

Choveu a semana inteira

Ficaram geladas as paredes

Não pudemos nos sentar nos bancos das praças

Os trabalhadores chegaram úmidos aos seus postos

Descobrimos que perdemos o guarda-chuva

No último inverno

Só me recordo do que fizemos juntos

Agora, vejo que chove

E não para de chover

Anunciam: campanhas para a doação de agasalhos

Ingressos do teatro valem cobertas

Só não as deixem largadas pelas ruas

Dizem

Guardem o que é seu consigo

Não vamos misturar as coisas

Chove pra todos

Mas só alguns sentem frio.

 

pedro libélula, 14/06/2023.

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