07.05.2020
Eu acordei tarde hoje.
Acordei, escovei os dentes e fui meditar. Eu parecia mais concentrado no início, mais preparado pro que iniciaria a fazer, como se resignado diante de uma passagem inescapável.
Em algum momento, me veio a imagem da Di à mente — foi a primeira imagem que me ocorreu. Eu a via na frente da capela que fica dentro do colégio onde estudei em toda a minha adolescência. Era o dia que ela tinha ido ao colégio pela primeira vez depois de voltar do intercâmbio no Canadá. Enquanto ela estava lá, as vezes a gente conversava por vídeo-chamada e tudo — éramos bem próximos. Acontece que, só pela tela do celular, eu jamais havia percebido como ela tinha mudado tanto em seis meses na América do Norte.
A Di, antes de ir pro intercâmbio, tinha quinze anos, era linda, linda. Seus olhos verdes brilhavam com seus cabelos louros bem dourados e ela tinha um frescor só seu. Seu corpo era magro e delicado. Agora, eu entendia o que suas palavras trêmulas tinham me adiantado por telefone sem eu ter levado a sério: “estou gorda”.
Quando a vi, não me espantei, contudo. Era como se eu tivesse compreendido imediatamente nos seus olhos a expectativa da imagem do meu espanto e julgamento. A diferença em sua aparência era inegável e ela havia se acostumado com olhares espantados desde o seu retorno. Mas não me permiti entregar espanto a ela. Ela sorriu.
A abracei e comemorei a sua presença. O sentimento que eu tive por ela naquele instante não era outro senão o de sempre — a mesma calma que aquele rosto branco avermelhado e inocente sempre me passava, me infestava agora novamente de conforto e uma paz que a amizade íntima traz quando o carinho é grande.
O pensamento nisso tudo me levou por alguns outros bons momentos que vivi com a Di. A última vez que a vi foi no carnaval: abraçamo-nos, tiramos fotos. Foi um momento muito bom. Não nos víamos há muito tempo e é sempre bom rever os amigos.
Gosto de cultivar esses sentimentos em mim mesmo que não haja mais aquela relação. Vivo como se aquilo fizesse ainda parte de mim — porque faz.