03.05.2020
no silencio e no escuro, sozinho, como se sujo da minha própria dor, olhei para dentro de mim: cada uma de minhas dores ainda maior – a irresponsabilidade exposta.
precisava encontrar minha própria luz. desejei poder controlar todos os meus pensamentos, palavras, sentimentos e ações. quis controlar a inteireza da minha vida e do meu destino; quis pôr as mãos na matéria que se faz a vida.
pensei sobre as coisas que eu mais gostava, e por quê; parei para ouvir as coisas que estavam acontecendo dentro de mim.
certo dia, então, eu estava lendo um livro e, logo no início, um rapaz que ficou dez anos em solidão, está de retorno a sua cidade natal. quando chega lá, ele encontra o povo na praça, onde todos aguardavam a travessia de um equilibrista sobre a corda. antes, então, que o ato se iniciasse, o rapaz revela ao povo a sua descoberta no exílio. o que ele dizia, porém, o povo não poderia compreender, e caiu na risada. mas, ele não sentiu vergonha; nem quis se vingar. sentia que não falava mais a mesma língua deles.
não perdi ainda o espanto daquela leitura.
escolhas do meu passado me vieram à tona agora há pouco. as tomo com mais clareza hoje. ainda assim, me questiono: por que insistem em retornar?
refaço os passos que fiz outrora, e julgo todas as minhas imperfeições causadas pelos piores momentos de minha recordação. na verdade, minha imaginação já está totalmente descolada da realidade: ela quer dar saltos no tempo. ela quer mudar o que já foi feito.