02.05.2020
Acabei de meditar. Eu não sou nada. Completo vazio. Ótimo.
Eu namoro. Isso me faz perceber muito sobre mim mesmo. E não é nem por namorar, é por ter a constância dessa relação. As coisas vão desabrochando.
Parei de ir às aulas, como fiz por cinco anos, todos os dias da semana: me formei. Aliás, eu não fazia ideia do que eu estava fazendo lá — pelo menos por um bom tempo. Depois de terminar o ensino médio, eu passei no vestibular e comecei a ir para as aulas na universidade. Eu queria participar o máximo da experiência universitária, inclusive das festas, idas ao bar etc. E eu não fazia ideia do que eu sei agora.
Algum momento eu percebi que não sabia nada sobre o que havia para saber. Reconheço que deve ter sido algum momento de clareza; ou então alguma indicação de interesse em algo relevante. Esses momentos, contudo, descobri também depois, não eram tão comuns como eu achava. Eles se mostravam para mim como rastros de luz na escuridão, e não duravam muito tempo acesos.
Houve um tempo em que tudo era inconstância. Talvez, as primeiras cores que se revelaram pra mim nasceram de minhas grandes dores e momentos de sofrimento. Talvez, por isso eu mantenha uma relação de muita consideração e respeito com essas feridas. A inconsciência, me parece agora, era estratégia minha para evitar toda essa dor — padrão antigo meu. Não sentir o mundo e fechar-me na ignorância era o efeito colateral garantido. Talvez seja por isso que eu simplesmente não me lembro mais da minha própria vida, se eu parar bem pra pensar. Não tenho mais lembranças da minha infância, apesar de bem recordar das circunstâncias em que eu me encontrava ao longo dos anos de cor e salteado.
Eu lembro, curiosa e oportunamente, de certas histórias que me servem para sustentar uma ideia própria de personalidade, ou para justificar a mim mesmo o motivo de eu ter feito as coisas que fiz. Sou um prisioneiro dessas histórias — e elas sequer são verdadeiras; são fruto de fantasia.
Minha inconstância também me deu diversas lembranças de alegria e espontaneidade. Ela gerou improviso, sorte, confiança. Em verdade, era loucura; eu estou cego e nostálgico. Jogava um jogo sem saber meus atributos e as regras da partida.
Quando me deparei com consequências, desesperei e corri em círculos. Tudo era escuridão. E, se hoje falo de meus desejos, não é por conhecê-los, mas por perceber a sua existência. Descobri que quando se vai até o inferno por algo, não se acaba com a coisa desejada; se acaba no inferno. Se foram as dores que acenderam as luzes mais incipientes em meu olhar, para agora compreendê-las, meu esforço e a minha coragem devem me dizer o que são estas luzes. Afinal, o que eu via senão escuridão?
Ir adiante foi entender que as luzes não clareavam algo em mim, mas sim irradiavam de mim. Incapaz de brilhar, em minha imensa gravidade, quis sugar para o meu interior toda a luz que encontrei. Em verdade, minha visão estava ofuscada. Minha excelência foi desenvolvendo pequenas mentiras, armadilhas, para as pessoas. A maior dor era, secretamente, habitar o completo vazio. Frio. Atraí pessoas incrivelmente luminosas ao meu redor — e quis toda a sua luz, até não mais ver.
Quando abdiquei dessa busca, a luz fez um movimento para fora — então eu vi.